Me disseram que o tempo cura,
mas ele só fez calar a dor no canto.
Ficou ali, costurando minha sombra
com os fios daquilo que me quebrou.
Eu jurei nunca ser como ela,
como ele, como aqueles.
Mas hoje me vejo
com os mesmos gestos,
o mesmo tom de voz,
e essa raiva escondida
que me consome sem avisar.
Quantas vezes repeti
as frases que me fizeram sangrar?
Quantas vezes machuquei
tentando me defender?
Eu não quero ser o reflexo da dor,
nem o eco de uma infância engasgada,
nem a continuação de um ciclo podre
que insiste em viver pela minha boca.
Hoje, me olho no espelho
e imploro com os olhos cansados:
me salva de mim,
antes que eu me torne exatamente
aquilo que lutei pra sobreviver.