Ultimamente, minha mente tem sido um lugar tumultuado.
As ideias que antes pareciam sólidas estão se desfazendo devagar, como tinta escorrendo pela chuva. Estou reconstruindo tudo minhas opiniões, minha forma de ver o mundo, meu lugar nele.
É estranho e, ao mesmo tempo, necessário. Um processo silencioso, mas gritante por dentro.
No meio desse caos de pensamentos, há uma única certeza que permanece imóvel, inabalável: a morte.
Ela não espera a gente estar pronto.
Ela não pede permissão, não manda aviso, não liga se estávamos bem ou não.
E o mais curioso é como essa certeza, apesar de tão definitiva, costuma ser esquecida ou evitada, como se não fosse real até bater à porta.
Talvez por isso eu tenha parado hoje para escrever.
Não porque estou triste ou com medo, mas porque percebi que há uma liberdade estranha nessa certeza.
Saber que vou morrer muda a forma como olho para o tempo.
De repente, os dias ganham um peso diferente mesmo os mais vazios.
Mesmo os em que nada faz sentido.
A vida não gira em torno de mim.
E isso, ao invés de me doer, me alivia.
O mundo não precisa me esperar. As estações não vão parar se eu não estiver.
E tudo bem. Porque há beleza em continuar mesmo depois que a gente vai.
Há paz em saber que nem tudo precisa depender de mim.
E se, no meio dessa confusão interna, tudo o que me resta for essa única certeza… que ela, pelo menos, me ensine a estar presente.
Mesmo que eu não entenda tudo.
Mesmo que eu ainda me sinta perdida.
— Camila Barbosa